sexta-feira, 14 de março de 2008

A Verdade


Afinal, o que tomamos por verdade? Entende-se normalmente por verdade, a conformidade de um determinado conceito com seu respectivo objeto. Mas é aí que reside o problema central não só do verdadeiro e do falso, do real e do irreal, mas de toda a discórdia entre a humanidade. Isso é consequência direta de nossa individualidade, seja chamada de ser, ente, consciencia ou espírito. Prevista pela relatividade geral de Einstein, a noção de que dois ponto de referência obterão dados diferentes sobre um mesmo objeto é clara, em certos aspectos.A pergunta é: Quem será o juíz que determinará qual destas visões possui conformidade com os fatos em sí? O que usamos como intermédio para verificar a procedência dos conceitos expressos por uma percepção pessoal, e definí-las como falsas ou verdadeiras? Desde muito tem se usado instrumentos que inflam o peito de quem os usa, e que podemos chamá-los autoridade. A autoridade pode ser exercida nesses casos pela razão, onde confia-se na chamada lógica, constante em métodos filosóficos e no método científico. Pode também ser proveniente de livros sagrados ou religiosos, que arrogam-se inspirados por Deus ou por "espíritos" superiores. Mas "a verdade" é que, em primeira e em úlltima instância, não temos aí mais do que percepções pessoais confirmando percepções pessoais. É raro, senão impossível encontrarmos dois seres humanos concordantes em todos os seus conceitos, salvo pelas situações em que um deles é chamado "seguidor", e o outro, mestre. Daí fica fácil descobrir a verdade, basta termos ouvidos, e escutá-la. Mas para nós (eu), espíritos inferiores, não inspirados por Deus, não possuidores de poderes extra-sensoriais, e cheios de dúvidas, não passamos de desgraçados melancólicos, não sabemos sobre o que falamos, não conhecemos a verdade, e nunca teremos nada nem ninguém que nos diga se nossa percepção é exatamente como o objeto em sí.

Daí a importância de se ter inimigos, como dizia Nietzsche, não para extermina-los, ou para dizer-lhes: "Estão errados! "Mas para confrontar a cada dia nossas idéias, a fim de obter a visão mais abrangente possível sobre os fatos e objetos. Ilustra-se fácil essa posição com a imagem de um quadrado de cores diferentes em cada lado. Joãozinho, estando à minha direita diz que o quadrado é vermelho, mas Adão, prostado ao esquerdo diz que é azul, enquanto Marcola que está à frente diz que é rosa. Eu, cansado de dizer que o quadrado é na verdade branco, paro um pouco de me deter somente em meu campo de visão, e pergunto aos outros o que veem. O resultado não pode ser outro senão a minha opinião de que o quadrado possui 4 cores diferentes em cada um dos quatro lados.Será uma visão mais aberta e detalhada, mas ainda sim uma das, ou até mesmo as 4 percepções estejam enganadas, ou que tenham mentido, ou que Deus tenha dito a um deles que está certo, e tenha mudado as cores do outro lado para confundir seus "inimigos". Mas no fundo, será sempre a minha visão sobre o quadrado, mesmo que impregnada dos conceitos formados por visões de outrem, seremos, ou serei, sempre este desgraçado melancólico, lutando por mostrar a coerência, a conformidade de minha observação com o objeto, sabendo que nunca encontrarei alguém que tenha a mesma perceepção que eu, e espalhando aos quatro ventos a cor do quadrado que enxergo. Ah se o quadrado falasse...

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