quarta-feira, 12 de março de 2008

Homeopatia

Antes de mais nada, façamos aqui um breve resumo de como surgiu, e no que consiste essa pequena grande "medicina" chamada homeopatia.
O termo foi cunhado do grego homoios, semelhante, mais pathos, doença, por Christian Friedrich Samuel Hahnemann, e forma o grande axioma dos homeopatas, cuja fórmula é "similia similibus curantur", similares curam-se com similares.
A técnica consiste em fornecer uma quantidade ínfima de um produto que cause os mesmos sintomas detectados na doença do paciente. Essa quantidade provém do próprio medicamento, esse testado clinicamente, diluído inúmeras vezes até o ponto em que nenhuma molécula do medicamento se faça presente. É como diluírmos uma gota de neosaldina em um balde de água, desse balde retirarmos outra gota, que será diluída em outro balde, e repetirmos o procedimento 30, 40, ou até 50 vezes, tomarmos uma colher de chá dessa pura água, e acreditarmos que nossa dor de cabeça será completamente curada. Abaixo, um artigo do físico Robert L. Park descrevendo essa diluição:

"Em um sem número de medicamentos homeopáticos, por exemplo, a diluição de 30X é basicamente o padrão. A notação 30X significa que a substância foi diluída em uma parte em dez e agitada e o processo, então, repetido seqüencialmente trinta vezes. A diluição final é de uma parte de medicamento em 1.000.000.000.000.000.000.000.000.000.000 partes de água. Isso está além do limite de diluição. Para ser exato, em uma diluição de 30X seria necessário se beber 7.874 galões [30 m³ ou 30.000 litros] da solução para se esperar encontrar apenas uma única molécula de medicamento. Comparado a muitas preparações homeopáticas, mesmo 30X é concentrado. Oscillococcinum, o remédio homeopático padrão para a gripe, é produzido a partir de fígado de pato, mas o seu uso generalizado na Homeopatia cria pouco risco à população de patos — a diluição padrões é de estonteantes 200C. O C significa que o extrato é diluído em uma parte em cem e agitado, repetindo-se duas centenas de vezes. Isso resultaria em uma diluição de uma molécula de extrato para cada 10400 moléculas de água — isto é, 1 seguido de 400 zeros. Mas há apenas 1080 (1 seguido de 80 zeros) átomos em todo o universo. A diluição de 200C está muito, muito além do limite de diluição de todo o universo visível!"


Logicamente o efeito placebo entra em ação nesse momento, como que o super-homem surgido do Clark Kent homeopático, e traz algum alento ao nauseabundo paciente. E é aí que entra a real filosofia homeopata. Atribui-se ao medicamento agora completamente diluído, que pode não passar de pura farinha ou água, uma essência, uma "informação energética" que mesmo com a destruição dos seus componentes físicos, leia-se moléculas, permanece imaculada no diluente, contendo todos os princípios terapêuticos do próprio medicamento. A procura por termos mais científicos resultou em nada, visto que os "fatos" não são observáveis, e nada pode surgir daí senão uma linguagem metafísica, esotérica, inteligível talvez, para uma pequena parte privilegiada de seres, obviamente dotada de alguma percecpção extra-sensorial ou faculdade transcendental da razão. Essa dificuldade em observar resultados eficazes em laboratório, é causa do número cada vez maior de adeptos com conceitos cada vez mais abrangentes e dos mais diversos possíveis, a fim de corroborar uma teoria cansativamente falseada. um exemplo disso podemos encontrar em um site dedicado à "informações médicas":

"Utilizando remédios naturais destinados a aumentar as capacidades curativas que o organismo possui, a Homeopatia trata a pessoa dentro da sua globalidade."

No início, um novo conceito homeopata, que diz-se aumentar as funcionalidades curativas do próprio paciente. Logo após, mais conceitos espiritualistas, que em verdade, nada querem dizer. A literatura homeopata está repleta destes termos, já que o método científico, e a mera observação sensível não são suficientes para fazer-se notar a eficácia do método homeopático.
Dito isso, passamos agora às marteladas científicas. Muitos testes têm se feito para comprovar ou desmistificar a homeopatia. E claramente não obtemos nenhum resultado que corrobore a hipótese de que as propriedades terapêuticas sobrevivam às seguidas diluições e consequente destruição das moléculas do medicamento. Houveram pesquisas pequenas e pouco significativas devido à não rigorosidade dos testes, que observaram algumas melhoras nos pacientes usuários de remédios homeopáticos. Essa pesquisa ilustra a metodologia citada:

"No momento, a evidência resultante de estudos clínicos é positiva, mas não suficiente para se chegar a conclusões definitivas porque a maioria dos estudos tem baixa qualidade metodológica e por causa do papel desconhecido da falta de imparcialidade nas publicações."
Kleijnen, J., Knipschild, P. and ter Riet, G. Clinical trials of homeopathy. BMJ 1991; 302: 316-323. http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/1825800?dopt=Abstract

Assim, sempre que se faziam testes mais abrangentes e rigorosos, o resultado não apresentava mais eficácia que o placebo.
A revista científica The Lancet publicou em 2005 um artigo em que uma pesquisa analisa 110 estudos sobre a eficácia dos medicamentos homeopáticos, e tem como resultado:

"Estudos maiores e melhores da homeopatia não mostram a diferença entre seus efeitos e os efeitos de placebos, enquanto que no caso dos remédios tradicionais, ainda observamos efeitos".
Quem fala aqui é o professor Matthias Egger, da Universidade de Berne. http://noticias.uol.com.br/bbc/2005/08/26/ult2363u4190.jhtm

Egger sugere que paremos com o financiamento de pesquisas com remédios homeopáticos, visto que são mais de décadas de pesquisas que não obtiveram nenhum resultado convincente para a comunidade científica. Não são poucos os estados que já não aderem mais aos medicamentos homeopáticos. Como citado no artigo a seguir, tomado como exemplo:

"Uma autoridade de saúde de Londres decidiu parar de pagar tratamentos homeopáticos em virtude da falta de evidências que justifiquem seu uso."

Wise, J. Health authority stops buying homoeopathy. British Medical Journal 314:1574,1997 http://www.bmj.com/cgi/content/full/314/7094/1569/i

Infelizmente para nós, brasileiros, a homeopatia é reconhecida como medicina, e vendida como comprovada cientificamente. Mas sempre há aqueles que não procuram "O segredo" por trás das aparências, graças ao bom senso, e ao senso de vida. Afinal, a única e real vida é esta, e, pelo menos eu, não espero nada melhor do que a terra, ou o mar, no final de tudo. Vale então deixar um pouco de procurar, e apenas contemplar. Poucos são os dados, mas abandoná-los seria voltar a estaca zero. Infelizmente também, nas palavras de Luis Fernando Veríssimo:

"A vida é a arte de tirar conclusões suficientes de dados insuficientes".



Um comentário:

Anônimo disse...

Ótima a explicação sobre essa falsa ciência chamada homeopatia. Morte à homeopatia.