quarta-feira, 19 de março de 2008

Das (in)existentes raças humanas

Muitos projetos políticos possuem um problema sério na sua fundamentação. As cotas para universidades, os projetos de igualdade racial, se baseiam no conceito de que raças humanas são definidas genéticamente, mas científicamente, e consequentemente na prática, essa definição é feita a partir do fenótipo, ou seja, da aparência do "avaliado", que por sua vez é definida pela interação do genótipo com o meio ambiente em que se desenvolveu. Como consequência disso, surgem divergências, tais como os irmãos gêmeos que foram avaliados separadamente para o sistema de cotas de uma universidade, e um foi rotulado como branco, ou caucasiano, e o outro negro, sendo os dois completamente idênticos.


Logicamente, esse deve ser método de julgamento":
O aspirante à vaga se dirige à secretaria, a moça pede para o garoto se posicionar em frente a janelinha, compara a cor do candidato com uma tabelinha de cores das tintas Renner na parede, e pronto, o estudante sai dalí com uma nova "raça" carimbada no formulário de cadastro.

Em 2008, foi publicada uma pesquisa científica do qual participaram 5 cientistas, que avaliaram mais de 8 mil amostras genéticas, colhidas aleatoriamente pelo mundo. A conclusão, nas palavras de Alan Templeton, biólogo que dirigiu a pesquisa, foi de que "as diferenças genéticas entre grupos das mais distintas etnias são insignificantes".
Por ironia do destino, ou não, o estalo de Templeton de que as "raças" estão bem longe de ser um conceito definido cientificamente, se deu no Brasil, quando, nas suas palavras:
"Em minha primeira visita ao Brasil em 1976, eu descobri que a classificação racial usada pelos brasileiros não era a mesma usada nos Estados Unidos; que a mesma pessoa poderia ser classificada de forma bem diferente em dois países. Aquela experiência me ensinou então que o conceito de raça não é necessariamente biológico."
Na pesquisa, as maiores diferenças no código genético se deram entre indivíduos de uma mesma etnia. Bem, no final das contas, talvez a moça que tivesse avaliado os irmãos gêmeos na universidade estivesse certa, e a avaliação consistisse em um avançado teste de genes do candidato, mais avançado do que a própria ciência. Nada descarta também uma possível intuição feminina.

O conceito de raça, dos cães por exemplo, foi definido unicamente pela vontade do ser humano de separar um determinado grupo, isolando-o e cruzando-o somente com os do mesmo grupo. Esse grupo então, após longos anos de separação dos outros fenótipos, acaba desenvolvendo uma diferenciação nos genes, que não estavam presentes quando da primeira aparição da espécie. O mesmo, acredita-se, dá-se com humanos. As pesquisas atuais apontam para uma origem única do ser humanos, a saber, a África, de onde teriam migrado para os outros continentes, para só então, permanecerem um tempo isolados uns dos outros, formando dois grupos distintos, com a aparência diferenciando-se unicamente pela ação do meio ambiente, ou melhor, pela interação do indivíduo com o habitat em que se encontravam.

"Mas nenhum grupo humano foi sujeito a estas condições de isolamento. De facto, todos os dados científicos mostram que temos um ancestral comum em África e que desde sempre o constante movimento e a consequente troca de bens, informação cultural e genética impedem que se gerem grupos humanos isolados. É sabido que basta haver migração de poucos indivíduos em cada geração para homogeneizar potenciais diferenças genéticas entre grupos."
http://www.comunicar-ciencia.org/website/index.php?option=com_content&task=view&id=72

É uma lástima para nós, brasileiros, sabermos que um conceito político "emergido" em meados do século 18, que tinha como único objetivo justificar e hierarquizar o domínio da recém surgida "burguesia" européia sobre as "raças inferiores", ainda esteja em uso na política Brasileira. A entrevista da querida Matilde Ribeiro, deixa bem claro o espírito de tais leis, e a que tipo de pensamentos podem levar:
"não é racismo quando um negro se insurge contra um branco".

Investir na educação básica de todos, para chegarem à universidade por seus próprios méritos e em iguais condições, não para quem tem a pele mais escura, mas para quem possui menos condições financeiras, é complicado, demanda tempo, e muito dinheiro.
Colocando "à força" uma determinada parte da população na faculdade é rápido, fácil, custa pouco, e de cara, ganhamos muitos votos para uma futura candidatura!

Pelo banimento desse termo da comunidade científica, aqui vai o final do artigo de Sérgio D. J. Pena - docente do departamento de bioquímica e imunologia da UFMG:

"Assim, a única maneira de lidar eticamente com a variabilidade genética dos brasileiros é individualmente, como seres humanos únicos e singulares nos seus genomas mosaicos e nas suas histórias de vida. Do ponto de vista médico, esta conscientização nos leva a propor que o conceito de raça deveria ser banido da medicina brasileira e que a palavra raça deve ser eliminada dos nossos prontuários clínicos."

Sérgio D. J. Pena - docente do departamento de bioquímica e imunologia da UFMG.

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